quarta-feira, 29 de abril de 2009

Para que serve a filosofia?

Para que serve a filosofia? : Uma crônica em sala de aula

Por Arthur Meucci

Primeira aula do ano letivo. Uma classe repleta de adolescentes cursando o primeiro ano do ensino médio. Vários seres sentados, conversando, esperando o professor se manifestar. O mestre se levanta. Coloca seu nome na lousa, a data, e o nome da matéria: Filosofia. Os alunos cochicham entre si. Um deles, mais desinibido, pergunta: “Professor, o que é filosofia?”. O professor sorri. Aproveitará a deixa do aluno para iniciar o seu curso.

Esse professor, um sábio experiente, não começará sua aula como a maioria de seus outros colegas. Deixará o texto da Marilena Chauí, da Maria Graça Aranha ou de Karl Jasper ,sobre o conceito de filosofia, de lado. Já aprendeu com a práxis docente que esta tática não funciona. Filósofos contemporâneos, falando sobre filosofia, deslegitimam mais do que ajudam. Assim como os pensadores clássicos ele vai direto ao ponto. “A filosofia é um saber que tem como pretensão uma postura crítica frente a realidade que o cerca. É um conhecimento que tenta satisfazer anseios subjetivos em relação a própria existência e sua relação com o mundo”. Receoso com o esquecimento de sua explicação o professor fala e ao mesmo tempo escreve o que é dito no quadro.

Os alunos ouvem e lêem em silêncio. Trocam olhares. Tentam entender palavras tão difíceis. Antes que eles percam o interesse e iniciem a bagunça o mestre, munido de seu habitus professoral, começa a explicar o sentido do conceito. Explica ainda que a filosofia, para efeito didático, foi dividida em três grandes áreas. O conhecimento e sua possibilidade, a ética (estudo sobre a ação) e a estética ou juízo (estudo sobre o valor). Evidencia que as reflexões sobre como “conhecemos” o mundo, como devemos “agir” ou como “avaliamos” as coisas são questões cruciais. Porém, não há interesse de muitos ramos do saber sobre essas questões. Não se espera que a matemática, a física, a biologia ou língua portuguesa tratem destes temas.

Após tal explicação um terço da classe está ganha. Há ainda dois terços que olham desconfiados. O bagunceiro, no intuito de aparecer, exibe-se à classe questionando, de maneira jocosa, o professor. Em seu íntimo ele é tomado pela inveja da posição central das atenções, ocupada pelo filósofo. Preso na caverna moldada pelo social, onde lá se deve pensar a vida em termos de lucro e benefícios imediatos, elabora uma pergunta com intenções sádicas para comprometer seu novo mestre. Em meio ao seu turbilhão de afetos ele indaga: “Professor, para que serve a filosofia? A matemática a gente usa pra contar dinheiro e tals. Na física estudamos movimento, velocidade, e é importante para o vestibular. Português ensina a ler e escrever. E esta coisa, para que serve? Dizem que só tem perguntas e mais perguntas. E, além disso, não tem respostas. Me parece que a filosofia e você não servem pra nada”.

Nesse instante ele gratifica seus desejos. A classe olha para ele. Há risos. Apoios. Seus sentimentos de carência e de inferioridade fálica (jargão psicanalítico) foram acalmados pelos olhares e risos de todos.

O sábio professor não perde a calma. Espera todos rirem e se aquietarem. Ele deixa o aluno se satisfazer e não o adverte, naquele dia, pelos palavrões utilizados em sua manifestação. Palavras essas censuradas pelo editor. O mestre se recorda de Paulo Freire, “O educador deve amar seu aluno”, apesar de no fundo ser um típico marxista e enxergar no aluno um “projeto de gente” que ocupa uma classe social que é sua inimiga. Neste momento ele amaldiçoou, no seu íntimo, a ineficiência de seu sindicato. Para satisfazer as inquietações ele responde ao aluno. Para tanto ele clama auxílio aos pensadores gregos, pais da filosofia ocidental.

Ele diz que a questão central da filosofia, levantada pelos gregos nos primórdios da civilização, era responder uma “simples” pergunta: “Como viver uma boa vida?”. Outros formulavam da seguinte forma, “Qual a vida que vale a pena ser vivida?”. O conhecimento filosófico e científico só se justifica sobre este aspecto. O saber serve para o homem escolher qual a maneira que ele acha mais adequada para se viver. Os remédios surgiram para vivermos mais e com menos dores, a mecânica ajuda o homem a viver confortavelmente. Com a matemática administramos melhor o mundo ao nosso redor. A filosofia, pai do saber, preocupa-se em responder como devemos proceder, com tanto conhecimento, para se viver da melhor maneira possível. Se há uma função primeira da filosofia é esta.

Aproveitando o ânimo dos alunos, o professor engata a segunda parte da resposta. Deixa claro que a filosofia, tendo como função formar sujeitos críticos que escolham, eles mesmos, qual a melhor maneira de conduzir a vida, não consegue ter respostas prontas para todos os casos. Será que existe uma única resposta para perguntas como “qual o melhor emprego para se ter?”, “qual, dentre as mulheres, é a melhor para se casar?”, “qual o melhor estilo musical para se ouvir?”. Dentre inúmeras possibilidades de se aposentar, “qual seria a melhor opção?”. Existiria um gabarito pronto para a vida? Ou então, uma fórmula para resolver todos estes problemas?

Nesse momento ele questiona. Se o aluno achar que existe repostas certas e válidas para todos os homens de como se deve viver, então a filosofia não tem serventia. O mais sábio a se fazer é seguir os pais, a televisão, ou o que os amigos mandam fazer. Caso contrário, é preciso pensar sobre a existência. Utilizar a filosofia como instrumento para se tornar um sujeito. Deixar de ser objeto dos outros. É utilizar tais conhecimentos para se viver a boa vida.

Ao término de sua explicação o professor conquista 80% dos alunos. Todos admirados pelas possibilidades apresentadas. O jocoso se encontra num conflito entre a presente alegria da resposta e a dor da castração simbólica de seu pequeno órgão. Vitória. Mas e os outros 20%? O sábio mestre não se deixa incomodar. Sabe que dentre eles há os semi-alfabetizados, os drogados e os trabalhadores braçais que utilizam a escola para dormir. Como filósofo virtuoso ele sabe que o mundo, por mais que ele se esforce, jamais será como ele realmente quer. Por isso, não se angustia.

Do site: http://criticafilosofica.wordpress.com/2008/04/17/para-que-serve-a-filosofia-uma-cronica-em-sala-de-aula/

Olá para você que chega agora ao espaço Passos na Filosofia.

Como eu mesmo procurei e não achei, criei este blog com o objetivo de manter um contato maior com outras pessoas que gostam de filosofia, de temas de filosofia, pessoas que tenham duvidas e não conseguem um ambiente “virtual” apropriado para isso.Tambem pensei em incluir nas discussões temas de mitologia, poesias, músicas, filmes e tudo mais que possa ter uma leitura filosofica.

Pensei neste blog como uma "ágora virtual" (que viagem, né?!), ou seja, um espaço de liberdade e respeito nas discussões. Portanto, quero que este seja um espaço coletivo e sadio para todos os seus freqüentadores.

E desejo sinceramente que todos gostem dos resultados, pois conto com todos para o bom andamento do blog.

Abraços.

Obrigado!